quinta-feira, 5 de março de 2015

Porque Krishna se tornou Gauranga Mahaprabhu

Por Sri Srimad Gour Govinda Swami Maharaj

Imagem de capa do cd do grupo tradicional de kirtan que tem como cantor o primo de Srila Goura Govinda Maharaj. Nesse cd uma das faixas canta o mesmo passatempo q será narrado aqui.

Dois tipos de Maya

Dois tipos de Maya estão aqui. Um é Maha-maya, que quer dizer, a energia ilusória, e a outra é Yoga-maya. Yoga significa que lhe dá a oportunidade de ir para Krishna. Isso é Yoga-maya. O que impede, é viyoga-maya ou Maha-maya. Yoga significa união. Viyoga significa separação. Então, há duas mayas.
Viyoga-maya ou Maha-maya está trabalhando no mundo material. Suas atividades são tão maravilhosas. Srila Prabhupada disse: os filósofos saltadores (froggish), argumentadores mundanos, o que eles podem entender – o que falar de Yoga-maya, a energia interna do Senhor, suas atividades são tão incríveis e maravilhosas. As vezes se torna muito difícil até mesmo por parte de Krishna entende-las! O que falar de nós, se até Krishna fica espantado! Então eu devo falar isto.
Radharani é hladini sakti. Ela é Madana-mohana-Mohini, que atrai os sentidos de Madana-Mohan, Krishna. Krishna sempre pensa em Radharani. Ele recebe muito prazer quando se une com Radha, o qual Ele não pode receber em outros lugares. Radharani é esquerdista, ‘vamangi’. Seu humor é humor de esquerda. Candravali é a parte opositora, ‘daksinangi’, de direita. Krishna não obtem muito prazer quando Ele se une com Candravali; nessa hora, Ele também pensa em Radha. Assim, por vezes, Krishna vai para o acampamento de Candravali a fim de elevar o humor esquerdista de Radharani ao ponto mais alto; somente para esse fim, nada mais.

Grande desapontamento

Um dia Srimate Radharani decorou Seu kunja muito bem. Suas asta-sakhis, oito sakhis íntimas estão lá. Lalita, Visakha, Tunga-vidya, etc., elas decoraram o kunja de Radharani com variedades de flores perfumadas, muitas decorações. Krishna virá. Estão todas esperando. Radharani está esperando, esperando ansiosamente para Krishna vir. Vento está soprando, um som é produzido. “Oh, Krishna está vindo!” Então, ela está em ansiedade a cada momento. Mas Krishna não chega.
Elas enviaram uma dyuti, mensageira, “Você vai e vê onde está Krishna!” Então a dyuti saiu e no caminho encontrou Saibya, uma sakhi companheira de Candravali. Saibya contou a ela que Krishna está no kunja de Candravali. Então, a dyuti voltou e relatou isto para Lalita e Visakha. “Krishna está no kunja de Candravali”. Então Lalita ficou muito irritada. Visakha é um pouco mais suave. Lalita é muito difícil. Elas relataram isto a Radharani. Radharani ficou emburrada. Seu humor de esquerda ficou elevado e atingiu o ponto mais alto.
O que diz Srimati Radharani? “Por que Krishna deveria vir até mim? Eu sou a mais infeliz! Tantas gopis estão lá. Candravali e tantas outras estão lá.” Isso é humor de esquerda. Então Radharani diz, “Eu não quero que Krishna venha. Não permita que Ele venha a Meu kunja. A entrada está proibida”. Radha disse isso irritada.

Palavras ásperas

Enquanto isso, Krishna veio, mas no portão Visakha e Lalita pararam Ele. “Não é permitido!” “Saia daqui, você não é digno de confiança” Nossa prana-sakhi, nossa mais querida sakhi decorou esse kunja tão bem, esperando por Você. Onde Você estava?! Porque Você está vindo agora? Saia daqui!” Lalita foi muito dura.
Krishna está agora em um estado de espírito muito humilde. Ele disse, “Eu sou um grande ofensor. Por favor, permita-me ir e pedir desculpas aos pés de Lótus de sua prana-sakhi.” “NÃO! NÃO! Saia daqui. Não é permitido. Admissão proibida.”
Krishna ficou muito desapontado. Ele não conseguia entender o que fazer. Ele foi para as margens do Yamuna. Ele desistiu de Suas vestes e rolou na areia, melancólico, decepcionado, chorando.

Apenas uma esperança

Então Paurnamasi devi, Yoga-maya, veio. Ela sabe tudo e organizava todas as atividades lá, os lilas. Todas as atividades de Purnamasi, Yoga-maya, são tão maravilhosas que algumas vezes até mesmo Krishna não consegue entender.
Então Purnamasi devi disse, “Oh meu querido garoto, porque Você está em tal condição? Eu sei de tudo. Tudo bem! Tudo bem! Eu fiz um arranjo. Eu já enviei Vrinda-devi para tomar as providencias para sua união com Radharani.”
Então Vrinda veio. Krishna estava muito melancólico, chorando, sentado ali, rolando na areia de Yamuna. Vrinda devi pensou, “Oh! Eu sou um instrumento nas mãos de Purnamasi, Yoga-maya. Krishna é lila-maya, que lila maravilhoso Ele manifestou. Então agora Krishna está sentindo muitas dores agudas da separação de Radharani, e Radharai desenvolveu um mau humor que Krishna não sabe como quebrar. Então Paurnamasi está me usando como instrumento. Se eu posso ser um instrumento na união de Radha e Krishna, então acho que minha vida será bem sucedida.”
Ela pensou assim consigo, e, em seguida, aproximando-se de Krishna, ela disse, “Eu sou Vrinda. Eu vim aqui sob a direção de Paurnamasi. Eu entendo que não há meios de como Você será capaz de encontrar Radharani e consolá-lá, quebrar Seu mau humor. Não há outro meio, a não ser uma coisa. Se Você fizer o que eu digo, então há esperança.”
Krishna diz, “Tudo bem. Eu devo fazer o que você diz. Eu não consigo entender o que fazer. Estou perplexo, não consigo pensar no que fazer.”
Vrinda diz, “Tudo bem. Você deve deixar esta gopa-vesa (vestido de vaqueiro). Você deve deixar esta coisa. São tão agradáveis os cabelos encaracolados em Sua cabeça – mas você tem que raspar sua cabeça. Sim. E deixar a flauta. Deixe sua pena de pavão. E não permaneça na postura dobrada em três, tri-bhanga. Deixe todas estas coisas e este corpo enegrecido. Não! Você tem que deixar todas essas coisas. Você tem que raspar Sua cabeça e Você tem que se tornar sannyasi e desistir de todas as coisas. Eu vou te ensinar uma música. Você tem que cantar esta música. E tomar um khanjani, um instrumento musical. Você tem que tocar e cantar essa canção na forma de sannyasi, então há esperança.”
Quando Vrinda disse isso, imediatamente aquela forma apareceu. Krishna tornou-Se aquela forma de sannyasi – cabeça raspada, e Sua aparência é de ouro derretido. Nenhuma pena de pavão, sem flauta, sem a forma curvada em três partes. Na forma de um yogi, sannyasi, Ele imediatamente apareceu lá. Então Vrinda devi cantou uma canção, que é glorificação a Radha,

srimate radhe bada abhimani
bamya bhave siromani-syama sari ange
achadana tava tapta-kancana varana
eto dina chile pagalani raye
kanu preme prana sampi
sarve rupe guneogo gandharvike
kanu mana kari curi aji radha prema
bhika mage kanu phere dware dware hai

“Oh Srimati Radharani, você desenvolveu um humor irado. Você é a joia da coroa do humor esquerdista. Seu corpo inteiro é coberto com um sari azulado. A tez de Seu corpo é de ouro derretido. Até agora Radharani estava louca por Kanu (Krishna) prema. Ela estava roubando a mente de Krishna. O Gandarvike, Você estava roubando a mente de Kanu, Krishna, encantando Ele com Sua linda forma e qualidades. Mas hoje, Kanu, Krishna, está indo de porta em porta pedindo Radha-prema, Radha-prema, Radha-prema.”

Sannyasi Thakura

Então Krishna cantou essa canção. Então ele foi para o kunja de Radharai. No portão Ele encontrou Lalita e Visakha. Krishna começou a cantar essa agradável canção glorificando Radharani. Cantando, “Kanu é um mendigo hoje, passando de porta em porta pedindo Radha-prema, Radha-prema, Radha-prema.”
Vendo um sannyasi cantando essa agradável música, Lalita e Visakha ficaram muito felizes.
Visakha disse: “Sannyasi Thakura, esta canção que Você está cantando é muito boa. Quem lhe ensinou esta música?”

Krishna respondeu: “Meu Guru é Gandharvika (Radharani).”

“Oh, Seu Guru é Gandharvika?”

“Oh sim, Meu Guru me ensinou esta música muito boa.”

“Por que você veio aqui, o que você quer?”

O sannyasi disse, “Eu não tenho nada, eu sou um mendigo. Eu vim aqui pra receber Radha-prema, Radha-prema. Eu sou um prema-bhikhari. Eu sou um mendigo de prema.”

“Tudo bem, ó sannyasi Thakura, minha prana-sakhi está muito, muito angustiada. Ela está sempe chorando, em condições de morte. Seu destino é muito, muito ruim, infeliz. Você sabe calcular o destino, sannyasi? Você pode calcular vendo as linhas nas mãos de minha sakhi?”

“Oh sim, eu sei.”

“Você sabe? Quem te ensinou?”

“Oh, meu Guru me ensinou todas as essas coisas – Gandharvika.”

“Você entrará no kunja para calcular o destino de nossa prana-sakhi? Ela está muito angustiada.”

“Oh sim, eu posso calcular.”

Krishna quer isto (este encontro), então Ele disse, “Sim, eu posso ir.”

Então nesse meio tempo, Lalita foi até Radharani e disse que um sannyasi thakura chegou. “Ele está cantando uma bela canção. Ele sabe como calcular Seu destino.”
Então Visakha leva o sannyasi para o kunja. Ela pediu a Krishna, “Você, por favor, cantará novamente a bela canção que estava cantando antes?”
Então Krishna cantou a canção em glorificação a Radha. “Hoje Kanu é um bhikari, Ele é um mendigo, movendo de porta em porta pedindo Radha-prema.” Quando Radharani ouvi essa última linha, ela disse:

aslisya va pada-ratam pinastu mam
adarsanan marma-hatam karotu va
yatha tatha va vidadhatu lampato
mat-prana-nathas tu sa eva naparah

Radharani disse o último verso do Siksastskam. “Aquele pervertido, lampatah, tudo que Ele gosta Ele pode fazer. Ele pode fazer. Ele pode me abraçar ou me chutar, ou esmagar-me com Seus pés ou colocar-me nessa condição de dores agudas da separação. Tão dolorosa condição, não me dando darsana (Sua visão). O que quer que Ele goste ele pode fazer, aquele pervertido. Mas Ele é o Senhor do Meu coração, mais ninguém.”
Então Lalita disse: “Tenha paciência, ó sakhi. Chegou um sannyasi thakura que irá calcular Sua fortuna. Não seja impaciente.”
Então Lalita deixou o sannyasi no kunja e providenciou um assento na varanda do quarto de Radharani. Então Lalita trouxe Radharani para a varanda. Então Radharani veio, colocando um véu sobre a cabeça. Por quê? Porque Radharani só ve Krishna. Ela nunca vê qualquer outro homem.  Colocando o véu, Radharani veio e sentou-se perto do sannyasi thakura. Lalita deu a mão esquerda de Radha ao sannyasi thakura.

“Por favor, calcule a fortuna de nossa prana-sakhi.”

Krishna disse, “Eu sou um sannyasi, Eu não posso  tocar a mão de sua sakhi.”

“Como você pode calcular, então?”

“Não, eu posso calcular vendo as linhas na testa Dela. Eu sei como fazê-lo.”

“Mas minha sakhi não olha para qualquer homem, apenas Krishna. Não. Ela é muito rigorosa a esse respeito. Ela nunca olha para qualquer homem além de Krishna.”

“Are-baba! Eu sou um dândi-sannyasi. Não há nenhum mal. Eu não tenho desejos. Eu abandonei tudo. Eu sou um sannyasi. Eu sou apenas um mendigo. Implorando amor, eu sou prema-bhikari. Eu abandonei tudo. Eu não tenho desejos. Se a sua sakhi levanta o véu, não há mal algum. Então eu posso calcular. Eu sou um sannyasi, não sou um homem comum.”

Lalita devi removeu o véu. Então imediatamente a forma de Krishna veio, tri-bhanga-lalita. A forma de sannyasi desapareceu. Agora tri-bhanga, curvado em três partes, pena de pavão e flauta. Então o olhar de Krishna e o olhar de Radha se uniram. Seu mau humor foi embora.
Então Visakha disse: “Tão incrível, o que é isso?”

pahile dekhilun tomara sannyasi-svarrupa ebe
toma dekhi muni syama-gopa-rupa
tomara sammukhe dekhi kancana-pancalika
tanra gaura-kantye tomara sarva anga Dhaka
tahate prakata dekhon sa-vamsi vadana
nana bhave cancala tahe kamala-nayana

“No começo eu vi Você aparecer como um sannyasi, mas agora eu estou vendo Você como Syamasundara, o menino vaqueiro. Eu vi Você aparecer como um boneco de ouro, e Seu corpo inteiro coberto por brilho dourado. Agora vejo Você segurando uma flauta em Sua boca, e Seus olhos de Lótus estão se movendo muito inquietamente devido a vários êxtases.”
(Sri Caitanya.caritamrta, Madhya 8.268-270)

Krishna-lila, Gaura-lila

Isso é o que Ramananda Raya viu. Ramananda Raya é Visakha sakhi na lila de Mahaprabhu. Mahaprabhu mostrou essa forma para Ramananda. Tão maravilhoso! Então, é assim que Krishna tem de chorar e se tornar sannyasi pedindo por Radha-prema. Radharani estava chorando e Visakha declarou, “Um dia Você vai ter que chorar assim!” E assim, Ele está chorando na forma de Mahaprabhu.

sri-radhayah pranaya-mahima kidrso vanayaiva
svadyo yenabhuta-madhurima kidrso va madiyah
saukhyam casya mad-anubhavatah kidrsam veti lobhat
tad-bhavadhyah samajani sai-garbha-sinadau harinduh
(Sri Caitanya caritamrta, Adi 1.6)

O que é o amor de Radharani? Agora Krishna é um mendigo disto. Radha-prema-bhikari. Ele veio na forma de um sannyasi, como um mendigo, implorando Radha-prema. Em uma forma completamente diferente – não está curvado em três partes, sem cabelo encaracolado – cabeça raspada. Agora Sua vestimenta amarela é da cor açafrão e Ele está implorando por Radha-prema. Isso é Radha-bhava. Ele veio na forma de sannyasi, caso contrário, Ele não pode pagar a dívida. Krishna tornou-se individado. Desta forma, Krishna pagou a dívida. Então a desavença de Radharani desapareceu. É por isso que Krishna se tornou sannyasi, Ele se tornou Mahaprabhu.
Ele (Krishna) veio para entender essas três coisas: “O que é o amor de Radharani? O que é Minha beleza que Radharani aprecia? E que felicidade e prazer Radharani saboreia Minha beleza, como posso saber?” Para cumprir estes três tipos de cobiça  e desejos, Krishna apareceu como Mahaprabhu, do ventre de Sacimata, sai garbha-sindau harinduh. Para entender essas três coisas, é por isso que Ele se tornou sannyasi. Isso é tão maravilhoso – Krishna ficou espantado. Esta é a atividade de Yoga-maya, Paurnamasi.  Oh, tão maravilhoso que mesmo Krishna não consegue entender, então como podem os outros entenderem?

Tradução: Indumati Devi Dasi
Revisão: Ramananda Das

segunda-feira, 2 de março de 2015

A Avidez do Senhor

A Avidez do Senhor

-22 (artigo - teologia) I A Avidez do Senhor (4001) (dia 24, aparecimento Gour Govinda) (bg) (ta)
Gour Govinda Maharaja

Um tópico avançado da consciência de Krishna é os desejos que o Senhor, embora completo e autossatisfeito, desenvolve em Sua sequência de passatempos. Como Vishnu, o Senhor deseja lutar e aparece como o poderoso homem-leão. Nessa forma híbrida, revela o desejo de ter pais. Como Rama, experimenta ser filho, mas desconhece o que é ter amigos íntimos e como é o amor conjugal em variados tipos de saudade, então nasce como Krishna. Krishna, por Sua vez, não é capaz de realizar três desejos, em virtude do que vem à Terra na forma do Senhor Chaitanya, como explicado em detalhes no Chaitanya-charitamrita e introdutoriamente nesta transcrição.

Quando falamos do avento de Chaitanya Mahaprabhu, devemos entender qual é a causa do mesmo. Há dois tipos de causas: externa e interna. A causa externa é difundir nama-prema, “amor a Deus”, através de hari-sankirtana, o canto do santo nome. O canto do santo nome é o processo religioso para esta era de desavenças e hipocrisia, o dharma para Kali-yuga.
kali-yuge yuga-dharma — namera prachara
tathi lagi’ pita-varna chaitanyavatara

“A prática religiosa para a era de Kali é difundir as glórias do santo nome. Apenas para esse fim o Senhor, em uma cor amarela, fez Seu advento como o Senhor Chaitanya”. (Chaitanya-charitamrita,Adi 3.40)
kali-yuga ‘dharma’ haya ‘hari-sankirtana’
etad arthe avatirna sri-shachi-nandana

“O princípio religioso para a era de Kali é o canto congregacional dos santos nomes do Senhor. Sri Shachinandana [o Senhor Chaitanya] encarna para estabelecer esse princípio”. (Chaitanya-bhagavataAdi 2.22)
ei kahe bhagavata sarva-tattva-sara
‘kirtana’-nimitta ‘gauracandra-avatara’

“Declara-se no Srimad-Bhagavatam que a Suprema Verdade Absoluta, o Senhor Gaurachandra, encarna a fim de propagar o cantar dos santos nomes”. (Chaitanya-bhagavata, Adi 2.23)
Chaitanya Mahaprabhu é o pai do hari-sankirtana – sankirtana-ike janakau.
kali-yuge sarva-dharma — ‘hari-sankirtana
saba prakachilena chaitanya-narayana
“O Senhor Chaitanya inaugurou o canto congregacional dos santos nomes como a essência de todos os princípios religiosos para a era de Kali”. (Chaitanya-bhagavata, Adi 2.26)
kali-yuge sankirtana-dharma palibare
avatirna haila prabhu sarva-parikare
“Em Kali-yuga, o Senhor encarna com Seus associados de modo a manter o princípio religioso dosankirtana”. (Chaitanya-bhagavata, Adi 2.27)
-22 (artigo - teologia) I A Avidez do Senhor (4000) (dia 24, aparecimento Gour Govinda) (bg) (ta)1
Chaitanya Mahaprabhu, Seus principais associados e outros devotos cantando os santos nomes de Deus publicamente.
Chaitanya Mahaprabhu é o pai do hari-sankirtana e aparece com todos os Seus associados, parafernália e dhama em Kali-yuga com este propósito de ensinar o canto do santo nome, ou hari-nama-sankirtana, cujo principal resultado é a obtenção de krishna-prema, em consequência do que Krishna é obtido.
cirad adattam nija-gupta-vittam
sva-prema-namamrtam aty-udarah
a-pamaram yo vitatara gaurah
krsno janebhyas tam aham prapadye
“A munificentíssima Suprema Personalidade de Deus, conhecida como Gaura Krishna, distribuiu a todos – inclusive aos homens mais caídos – Seu próprio tesouro confidencial sob a forma do néctar do amor a Ele mesmo e ao santo nome. Jamais, em qualquer época do passado, as pessoas receberam isso. Portanto, presto-Lhe minhas respeitosas reverências”. (Chaitanya-charitamrita,Madhya 23.1)
brahmara durlabha prema sabakare yache
dina hina patita pamara nahi bache
(Chaitanya-mangala)
É dificílimo, mesmo por parte de Brahma, obter semelhante prema. Mahaprabhu, entretanto, está oferecendo e distribuindo krishna-prema livre e indiscriminadamente. Até mesmo as pessoas mais degradadas e pecaminosas, patita-pamaras, Jagais e Madhais, podem receber. Portanto, Ele é conhecido como Prema Purushottama Shachinandana Gauranga.
Cinco mil anos atrás, Sri Krishna veio em Seu próprio svarupa, Sua forma original. Em Suakurukshetra-lila, Krishna entregou Sua mensagem na forma do Bhagavad-gita a Arjuna e, através de Arjuna, a toda a humanidade. Ali, apresentou instruções confidenciais, mais confidenciais e absolutamente confidenciais. Sua instrução absolutamente confidencial é:
man-mana bhava mad-bhakto
mad-yaji mam namaskuru
mam evaisyasi satyam te
pratijane priyo ‘si me
“Pensa sempre em Mim e torna-te Meu devoto. Adora-Me e oferece-Me tuas homenagens. Tu, destarte, virás a Mim impreterivelmente. Prometo-te isto porquanto és Meu amigo muito querido”. (Bhagavad-gita 9.34)
Essa é Sua instrução absolutamente confidencial. A instrução conclusiva é:
sarva-dharman parityajya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah

“Abandona toda variedade de religiões e simplesmente rende-te a Mim. Libertar-te-ei de toda reação pecaminosa. Não temas. Abandonando toda variedade de dharma, apenas rende-te a Mim”. (Bhagavad-gita 18.66) Contudo, ele disse isso apenas teoricamente, sem nunca ensinar como alguém se rende na prática.
“Tenho de Ir Novamente”
Krishna é suhridam sarva bhutanam, “o único amigo benquerente de todas as entidades vivas”. (Bhagavad-gita 5.29) Após findar Seus passatempos no fim de Dvapara-yuga, voltou para Sua morada pessoal, Goloka Vrindavana. Lá, pensou: “Dei instruções confidenciais, mais confidenciais e absolutamente confidenciais a Arjuna e a toda a humanidade, mas, depois de Dvapara-yuga, vem Kali-yuga, a era mais pecaminosa. Devido a um crescimento de atividades pecaminosas, a consciência das pessoas está imensamente poluída e todos se ocupam em atividades pecaminosas. Eles não são capazes de compreender o que Eu disse. Não podem compreender o caminho de rendição, sharanagati-tattva. Falei apenas teoricamente. Não demonstrei de maneira prática como se dá a rendição. Por conseguinte, tenho de ir novamente”. Krishna, então, veio como Chaitanya Mahaprabhu. Essa é a razão pela qual Ele encarna em Kali-yuga.
yuga-dharma pravartaimu nama-sankirtana
cari bhava-bhakti diya nacamu bhuvana
“Inaugurarei pessoalmente a religião da era – nama-sankirtana, o canto congregacional do santo nome. Farei o mundo dançar em êxtase compreendendo as quatro doçuras do serviço devocional amoroso”. (Chaitanya-charitamritaAdi 3.19)
O Senhor disse: “Irei e pregarei este yuga-dharma do nama-sankirtana e darei as quatro formas debhakti: dasya, sakhya, vatsalya, madhurya. E farei o mundo inteiro dançar com esse bhava-bhakti.
apani karimu bhakta-bhava angikare
apani acari bhakti sikhaimu sabare
“Aceitarei o papel de um devoto e ensinarei o serviço devocional praticando-o pessoalmente”. (Chaitanya-charitamrita, Adi 3.20)
Em outras palavras: “Aceitarei bhakta-bhava, a disposição de um bhakta, e ensinarei bhakti. A menos que Eu pratique bhakti pessoalmente, não posso ensinar”.
apane na kaila dharma sikhana na yaya
ei ta’ siddhanta gita-bhagavata gaya
“A não ser que o sujeito pratique ele mesmo o serviço devocional, não pode ensiná-lo a outros. Esta conclusão é deveras confirmada ao longo do Gita e do Bhagavatam”. (Chaitanya-charitamritaAdi 3.21)
Krishna está pensando: “Se eu não praticar bhaktisharanagati, em Minha própria vida, não posso ensinar isso”. Então, Sua disposição é bhakta-bhava, a disposição de um bhakta.
Essa é a causa externa, ou bahiranga-karanam, para o advento do Senhor Chaitanya. A causa externa é motivada pensando no bem-estar dos outros, o povo de Kali-yuga, kali-yuga jiva, ao passo que a causa interna, antaranga-karanam, é para Ele mesmo. Essas são as duas causas para o advento do Senhor Chaitanya, mais o chamado de Advaitacharya, sobre o qual falo em outra oportunidade.
Três Desejos
A causa interna tem por objetivo satisfazer três desejos:
sri-radhayah pranaya-mahima kidrso vanayaiva-
svadyo yenadbhuta-madhurima kidrso va madiyah
saukhyam casya mad-anubhavatah kidrsam veti lobhat
tad bhavadhyah samajami saci-garbha-sindhau harinduh
“Desejando compreender a glória do amor de Radharani, as magníficas qualidades nEle que somente Ela desfruta através do amor que Ela tem, e a felicidade que Ela sente quando experiencia a doçura do amor dEle, o Supremo Senhor Hari, ricamente dotado das emoções dEla, apareceu do ventre de Srimati Shachi-devi assim como a Lua surgiu do oceano”. (Chaitanya-charitamritaAdi 1.6)
Svarupa Damodara Gosvami falou isso, que é citado por Rupa Gosvami em seu Lalita-madhava. Nakrishna-lila, três desejos permanecem não realizados. Primeiro, Krishna quer saber: “O que é o amor de Radharani?”. Então, desejou saber: “O que é Meu rupa-madhuri, Minha excelente beleza que Radharani desfruta e como posso saboreá-la?”. Em outras palavras, veti lobhat, ou três desejos, três tipos de avidez, desenvolveram-se no Supremo Senhor Krishna. Portanto, shachi-garbha-sindhau harinduh — Krishna apareceu do ventre de Shachimata para realizar esses três desejos ou três tipos de avidez. Isso é o avatara Gaura.
Avidez É Natural
No verso acima, a palavra lobha, “avidez”, é muitíssimo significativa. O Senhor possui avidez. Por conseguinte, é bastante natural que também tenhamos. Somos pessoas materialmente ávidas. Porém, a avidez do mundo material é condenada; é considerada um dos inimigos. No Bhagavad-gita, vocês encontrarão que o Senhor Krishna disse:
tri-vidham narakasyedam
dvaram nasanam atmanah
kamah krodhas tatha lobhas
tasmad etat trayam tyajet
“Há três portões que conduzem a esse inferno – a luxúria, a ira e a avidez. Todo homem são deve abandonar tais coisas, pois conduzem à degradação da alma”. (Bhagavad-gita 16.21)
O Senhor Krishna diz: “Devem-se abandonar estes três, kama, krodha, lobha, isto é, luxúria, ira e avidez”. Se você se influenciar ou se afetar por esses três inimigos, você abrirá a porta para o inferno, então os abandone. Esse lobha é muito ruim. Aqueles que têm avidez material certamente sofrerão.
Há uma historinha sobre avidez. Um garoto ávido estava em sua casa quando sua mãe colocou algumas frutinhas deliciosas em um pote de barro que tinha uma abertura bem pequena. O garoto ficou ávido por pegar algumas daquelas frutinhas, em razão do que colocou sua mão dentro do pote e agarrou um punhado das frutinhas. Quando tentou tirar sua mão do pote, viu-se incapaz, pois a mão havia ficado presa na pequena abertura do pote. Doía-lhe a mão quando tentava tirá-la. Como sua mão não se soltava, ele começou a chorar. Esse é o sofrimento decorrente da avidez. Apesar de estar sofrendo, ele também não deixa nenhuma frutinha cair de sua mão. Esta é uma história simples demonstrando que a consequência da avidez é o sofrimento. Portanto, Bhagavan Krishna no Bhagavad-gita nos diz para abandonarmos essa avidez.
Contudo, a avidez pode ser utilizada a serviço de Krishna. A palavra lobha é uma palavra muito antiga; não é uma palavra moderna. O germe dessa avidez também está em bhagavan, bem como no bhakta. Então, em relação ao bhagavata-bhakta, o devoto do Senhor, é dito:
lobha sadhu-sange hari-katha
“Ele tem a avidez por ouvir sobre Hari na companhia dos santos”. (Srila Narottama Dasa Thakura,Prema-bhakti-chandrika 2.10)
Então, como você pode utilizar essa avidez? Desenvolva a avidez de ter mais e mais sadhu-sanga, companhia dos sadhus, devotos puros, e ouça mais e mais krishna-katha. Desenvolva essa avidez. Trata-se de uma avidez excelente essa avidez espiritual, avidez transcendental. Essa avidez não deve ser abandonada, senão que ela deve ser desenvolvida mais e mais. Quanto mais você desenvolva essa avidez, mais você obtém gosto espiritual e avanço espiritual. Quem não está ávido não pode avançar no caminho espiritual nesse aspecto. Contudo, a avidez material deve ser abandonada, e a avidez espiritual deve ser desenvolvida. É dito mais uma vez:
krishna-bhakti-rasa-bhavita matih
kriyatam yadi kuto ‘pi labhyate
tatra laulyam api mulyam ekalam

janma-koti-sukrtair na labhyate
“O serviço devocional puro em consciência de Krishna não pode ser obtido nem mesmo pela execução de atividades piedosas por centenas e milhares de vidas. Pode ser obtido somente pelo pagamento de um preço: intensa avidez por obtê-lo. Caso semelhante serviço devocional puro esteja disponível em algum lugar, deve-se comprá-lo sem tardar”. (Padyavali 14, Srila Rupa Gosvami)
Neste verso, a palavra laulya significa lobha, “avidez”. A partir desse verso, você pode entender como a semente da avidez está presente. O significado do verso que citei é que, se você tem semelhante avidez espiritual, você pode obter krishna-bhakti-rasa, a doçura de krishna-bhakti. De outro modo, se você carece dessa avidez, você não pode obter isso. Sadhu-sange hari-katha: portanto, a pessoa deve desenvolver a avidez por ter mais e mais sadhu-sanga, associação com os devotos puros e ouvir mais e mais hari-kirtan, hari-katha. Você, então, fará avanço em bhajana-sadhana, serviço devocional. Pessoas materialistas não sabem como utilizar a avidez – elas abusam dela. Elas abusam da avidez por direcioná-la para desfrutes materiais e posses materiais, em decorrência do que sofrem. Quando falamos do advento de Shachinandana Gaura Hari, o aparecimento de Chaitanya Mahaprabhu, a avidez espiritual está presente.
Deveras Maravilhoso
Anteriormente, expliquei que Krishna desenvolveu três tipos de avidez que não puderam ser atendidas na krishna-lila. Ele, portanto, fez Seu advento como Chaitanya Mahaprabhu, gaura-avatara. Na gaura-lila, esses três tipos de avidez foram satisfeitos.
É realmente maravilhoso o uso desta palavra “avidez”. Alguém já havia utilizado essa palavra antes? Ninguém jamais o fizera. Contudo, Svarupa Damodara Gosvami a utilizou. Ele disse: “Por causa do desenvolvimento dessa avidez, Vrajaraja-nandana Krishna tornou-Se Shachinandana Gaura Hari”.
O Senhor Supremo é purna-brahma, aquele que não tem qualquer deficiência nem necessita de algo. Ainda assim, Ele desenvolve avidez. Maravilhoso! Maravilhoso! Se Ele não tem deficiência, se Ele é purna-brahma, se Ele é autossatisfeito, se Ele não quer nada, se Ele não carece de nada, por que tal avidez? Maravilhoso! Maravilhoso! Devemos compreender o mistério. Qual é o tattva por trás disso? Aquele que é aptakamaatmarama, rasa-svarupa purna-brahmaparamananda-mayasac-cid-ananda-maya, desenvolve avidez. Que tipo de avidez é esse e para que fim? Isto é deveras maravilhoso! Deveras maravilhoso!
Assim, podemos entender como a semente dessa avidez também está no Senhor Supremo. Ela gradualmente se desenvolve, e seu cume está em gauranga-svarupa, a forma eterna de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Darei um exemplo a vocês.
A Avidez do Senhor Vishnu
Vishnu, o Senhor de Vaikuntha, vaikuntha-dhipati-vishnu, desenvolveu certa avidez. Ele desenvolveu o desejo de lutar. Ele cultivou o desejo: “Lutarei”. Porque Ele é bhagavan, os seis tipos de opulências estão completamente manifestos nEle. Uma das opulências é força, ou bala. Possui incomparável força. Visto isso, é natural o desenvolvimento do desejo de lutar. Ele deseja realizar esse desejo, essa avidez. Sempre que bhagavan quer realizar algum desejo, a Sua potência interna, yoga-maya, cria a atmosfera apropriada. Então, quando esse desejo se deu em Vishnu, vaikuntha-dhipati-narayana, Sua potência interna, yoga-maya, criou as circunstâncias para a concretização desse desejo.
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Pelo arranjo de yoga-maya, os quatro Kumaras amaldiçoaram os porteiros de Vaikuntha, Jaya e Vijaya.
Outro ponto é que o oponente tem de ser igualmente forte, ou não é possível obter prazer em lutar. Então, quem poderia se candidatar? Com quem o Senhor lutaria? Pela vontade do Senhor e pelo arranjo de yoga-maya, os dois porteiros Jaya e Vijaya, que são fortíssimos, lutaram contra o Senhor. Pelo desejo do Senhor Supremo, esses dois porteiros foram amaldiçoados pelos quatro Kumaras a se tornarem demônios por três vidas. Yoga-maya providenciou isso. Primeiro, vieram como Hiranyaksha e Hiranyakashipu, então Ravana e Kumbha-karna e, por fim, Shishupala e Dantavakra. Em três encarnações, o Senhor Vishnu-Narayana lutou contra eles e obteve prazer em lutar. Essa é a avidez de Vishnu-Narayana, como descrito no Srimad-Bhagavatam.
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O Senhor Supremo, em Sua forma de Nrisimhadeva, luta com Hiranyakashipu.
A Avidez de Nrisimhadeva
Então, veio a avidez do Senhor Nrisimhadeva. O Senhor Nrisimhadeva tem duas formas: ugra, medonha; e anugra, pacífica. Depois de matar Hiranyakashipu, o Senhor Nrisimhadeva é muitíssimo medonho – Ele exibe uma forma extremamente aterradora e dança como no tandava-nritya, a dança da devastação do Senhor Shiva no momento da aniquilação. O mundo inteiro estava tremendo por ver tal dança e ira da forma medonha do Senhor Nrisimhadeva. Todos os semideuses estavam oferecendo orações para pacificá-lO, mas Ele não pôde ser pacificado. Então, solicitaram ao bhaktaPrahlada: “Por favor, vai até o Senhor Nrisimhadeva e aplaca Sua ira”.
Prahlada Maharaja é um queridíssimo devoto do Senhor. Então, Prahlada foi até o Senhor Nrisimhadeva de modo a oferecer-Lhe orações, e Ele Se acalmou e manifestou Sua forma muito pacífica. Então, o Senhor Nrisimhadeva colocou Seu querido devoto, Prahlada, em Seu colo, tal qual um filho. Nesse momento, vatsalya-prema, o amor parental, desenvolveu-se no Senhor Nrisimhadeva.
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Nrisimhadeva com Prahlada em Seu colo.
O pai e o filho desfrutam desse rasa juntos. O pai desfruta e o filho também desfruta de sentar-se no colo de seu pai. Portanto, é recíproco, mas o desfrute por parte do filho é maior. Isso deve ser entendido. Então, o Senhor Nrisimhadeva desenvolveu esta avidez: “Como posso Me sentar no colo de Meu pai e desfrutar desse rasa? Porque nesta encarnação Meu pai é um pilar de pedra, não posso experimentar tal coisa”. Ele, então, desenvolveu a avidez de compreender o rasa de ser um filho. Então, todas as encarnações depois do Senhor Nrisimhadeva vieram aceitando um pai e uma mãe para satisfazer essa avidez.
A Avidez do Senhor Rama
Este é um tópico magnífico, como vocês podem ver. O Senhor Rama também desenvolveu determinada avidez. Vibhishana e Sugriva são amigos do Senhor Rama, o que significa que sakhya-rasa está presente no avatara Rama. Existem dois tipos de sakhya-rasasambhrama visrambha.Sambhrama-sakhya é a amizade com respeito e reverência, ao passo que visrambha-sakhya é amizade como iguais, sem respeito e reverência. Então, o sakhya-rasa no advento de Rama ésambhrama-sakhya, amizade com respeito e reverência – não há questão de visrambha-sakhya, ou amizade em igualdade. No avatara Rama, Seus amigos, Sugriva e Vibhishana, não podiam subir nos ombros do Senhor Rama ou tomar da boca do Senhor Rama a Sua comida. Eles temem até mesmo que suas pernas toquem no corpo do Senhor Rama. Eles temem porque seria ofensivo. Isso ésambhrama-sakhya-rasa, amizade com respeito e reverência.
Lord Ramachandra's Triumphant Return to Ayodhya
Nos passatempos como o rei Ramachandra, o Senhor Supremo experimenta de amizades, mas não com a intimidade que experimenta em Seus passatempos como Krishna.
Todavia, visrambha-sakhya é aquela afeição em que os amigos se consideram iguais ao Senhor – nessa afeição, não há questão de respeito e reverência. Se sua perna toca seu próprio corpo, há alguma agitação? Não há absolutamente nenhuma agitação, pois é sua própria perna tocando seu próprio corpo, e não a perna de outrem. Uma pessoa diferente é muito cautelosa. Se ela percebe que está próxima, ela tem o cuidado de se afastar.
Na lila de Krishna, vocês verão esse visrambha-sakhya. Os vaqueirinhos sobem nos ombros de Krishna e tomam a comida da boca de Krishna, e Krishna toma a comida da boca dos vaqueirinhos, como se estivessem no mesmo nível. As pernas dos vaqueirinhos tocam o corpo de Krishna e não há qualquer agitação em Krishna, pois é como se a perna dEle mesmo O estivesse tocando. Isso se deve ao fato de que os priya-narma-sakhas, os vaqueirinhos amigos de Krishna, são muito queridos, motivo pelo qual seu relacionamento com Krishna é de igualdade, abhinnam.
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Krishna brincando com Seus amigos vaqueirinhos.
No avatara Rama, os passatempos do Senhor Rama, esse sakhya-rasa não é desfrutado. Portanto, Rama desenvolveu esta avidez: “Como posso gozar disso?”. Esse desejo foi satisfeito no avatara Krishna.
A Essência da Doçura Conjugal
Então, há outro rasamadhurya-rasa, a doçura conjugal. No avatara de Rama, o Senhor Rama émaryada-purushottama, o que significa que Ele segue muito estritamente as regras e regulações védicas e jamais as transgride. Eka-patni-dhara, Ele aceita apenas uma esposa – não mais do que isso. Ele segue com muita estriteza. Na lila de Rama, madhurya rasa, a doçura conjugal, não é completamente desfrutada. A essência do rasa conjugal é desfrutado no nível mais alto quando há união, milan, e separação, viraha, entre o amante e a amada.
Vemos na lila de Rama que há união e separação entre Rama e Sita. Ravana raptou Sitadevi e levou-a embora. E há também o evento em que o Senhor Rama, a fim de aprazer e alegrar Seus cidadãos, bane Sita. Esses são exemplos de separação na lila de Rama. Contudo, não há variedade nesse tipo de separação. E por não ser uma separação natural, mas forçada, não há questão de desfrutar a essência desse amor conjugal.
No Ujjvala-nilamani, Rupa Gosvami menciona diferentes tipos de separação, viraha. Há muitos tipos de virahaspuraba-raga-virahamana-virahaprema-vaichitya-viraha e pravasa-viraha. Na lila deRama, não há essa variedade de viraha, separação, mas apenas um tipo de viraha, a saber, pravasa-viraha.
Vocês não podem entender, mas apenas ouvir. Isso está no Ujjvala-nilamani. É um tópico extenso e um ponto muitíssimo confidencial e sutil. Não explicarei isso, mas, quando for chegada uma ocasião propícia, falarei sobre isso com vocês.
Contudo, na lila de Krishna, todos estes virahas estão presentes: puraba-raga-virahamana-viraha,prema-vaichitya-viraha. Portanto, o Senhor Rama desenvolveu esta avidez: “Como desfrutar desses diferentes tipos de viraha?”. No avatara Krishna, essa avidez é satisfeita.
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Radharani e Suas amigas no êxtase da saudade de Krishna.
Viraha, a separação entre o amante e a amada, é a plataforma mais elevada de prema. Nessa plataforma, tanto o nayaka quanto a nayika, o amante e a amada, desfrutam dessa doçura em seu coração. Portanto, na lila de Krishna, Krishna é radha-kanta, o esposo de Radharani, e gopi-kanta, o esposo das gopis. Todavia, embora Radha e as gopis sejam esposas dEle, Ele fez delas esposas de outros para desfrutar de parakiya-rasa, o amor de um amante.
Na lila de Rama, desfruta-se apenas de svakiya-rasa, o amor com a própria esposa. Como parakiya-rasa não é desfrutado na lila de Rama, o Senhor Rama desenvolveu essa avidez por parakiya-rasa.
A fim de desfrutar de parakiya-rasa, Krishna tornou alheias Suas próprias esposas. Assim, essa avidez não realizada na lila de Rama é realizada na lila de Krishna, causando o advento do avataraKrishna.
Eis, enfim, como o desenvolvimento da avidez gradualmente causou o advento de uma encarnação do Senhor após a outra.
A Avidez de Krishna
Na lila de Krishna, estes três tipos de avidez estão presentes:
sri-radhayah pranaya-mahima kidrso vanayaiva-
svadyo yenadbhuta-madhurima kidrso va madiyah
saukhyam casya mad-anubhavatah kidrsam veti lobhat
tad bhavadhyah samajami saci-garbha-sindhau harinduh
“Desejando compreender a glória do amor de Radharani, as magníficas qualidades nEle que somente Ela desfruta através do amor que Ela tem, e a felicidade que Ela sente quando experiencia a doçura do amor dEle, o Supremo Senhor Hari, ricamente dotado das emoções dEla, apareceu do ventre de Srimati Shachi-devi assim como a Lua surgiu do oceano”. (Chaitanya-charitamritaAdi 1.6)
Sri Chaitanya Mahaprabhu é o próprio Krishna, mas Sua disposição é diferente. Ele tem a disposição, ou humor, de um devoto, especialmente radha-bhava, a disposição de Radharani:
ataeva sei bhava angikara kari’
sadhilena nija vancha gauranga-sri-hari
“Portanto, o Senhor Gauranga [Chaitanya], que é o próprio Sri Hari, aceitou os sentimentos de Radha e, destarte, realizou Seus desejos pessoais”. (Chaitanya-charitamrita, Adi 4.50)
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Embora Chaitanya seja o próprio Senhor Supremo, tem os sentimentos de um devoto.
Essa é a causa interna do avatara ChaitanyaKrishna desenvolveu três desejos fortíssimos. A primeira avidez é esta: “O que é o amor de Radharani? Como posso compreendê-lo?”.
ei prema-dvare nitya radhika ekali
amara madhuryamrta asvade sakali
“Somente Srimati Radharani, pela força de Seu amor, desfruta por completo da doçura ou beleza de Krishna”. (Chaitanya-charitamrita, Adi 4.139)
Krishna é vishaya-vigraha, o objeto do amor, e Radharani é asraya-vigraha, a morada do amor. Como o vishaya poderia compreender o asraya senão aceitando a disposição do asraya? Não há outra maneira.
A segunda avidez: “O que é Minha beleza?”. Krishna é extremamente belo, madhuryaka-nilaya. Kandarpa-koti-kamaniya-visesa-sobham (Brahma-samhita 5.30). Sua beleza em muito excede multidões de Cupidos. Krishna é belíssimo. Vrndavane ‘aprakrta navina madana’ (Chaitanya-charitamrita, Madhya 8.138). Em Vrindavana, Ele é o Cupido espiritual, o Cupido transcendental, sempre jovem e viçoso. Sempre que você olhe para Krishna, verá que Sua beleza é sempre renovada – Ele jamais envelhece.
Krishna indaga: “O que é Minha beleza?”. Entretanto, como Ele pode entendê-la? Você pode ver sua própria face? Você pode ver a face de outra pessoa, mas, para ver sua própria face, é necessária a ajuda de um espelho. Com o espelho, você pode ver sua própria face, mas é apenas um reflexo. O espelho reflete e você vê o reflexo. Como Krishna pode ver Sua beleza? Que tipo de espelho é necessário? Sat-prema-hrdaya-darpana — o coração é um espelho, darpana, e sat-prema-hrdaya é o coração de um premi-bhakta, aquele que desenvolveu completamente o amor puro. Então, o coração de semelhante premi-bhakta é um espelho, e, nesse espelho, Krishna vê Sua forma. Todavia, isso não é um reflexo. Em um espelho, você pode ver o reflexo, mas, no coração de um premi-bhakta, no espelho do amor puro, Krishna Se vê.
Em sânscrito, um reflexo se chama prati-bimba“Prati” é um upasarga, um prefixo. Existem vinte e um upasargas: pra, para, ap, sam, su, abi, api, upa, prati, ati, a etc.
Prati-bimba significa “reflexo”, mas Krishna jamais vê o prati-bimba; Krishna vê o bimba. Em outras palavras, Ele Se vê. Não prati-bimba, mas bimba. Isso é sat-prema-darpana. O coração de um premi-bhakta é tal coração onde Krishna pode Se ver. E o melhor espelho é o coração de Srimati Radharani.
O terceiro desejo de Krishna é saukhyam casya mad-anubhavatah kidrsam veti lobhat. “Qual sukha, felicidade, e qual ananda, prazer, Radharani sente desfrutando de Minha beleza? Como posso conhecer isso?”.
Porque essas três avidezes permaneceram não satisfeitas na lila de Krishna, Krishna apareceu no ventre de Shachimata como Sri Chaitanya Mahaprabhu. Esse é o antaranga-karanam, a causa interna, do aparecimento de Mahaprabhu.
Portanto, Svarupa Damodara Gosvami utilizou essa palavra lobhat, cujo significado é “a partir da avidez”. Essa palavra é absolutamente significativa.
Muito obrigado.